Depois de, no dia 7 de abril de 2024, cerca de 1500 pessoas se terem manifestado, em Carcavelos, contra o projeto de betonização da Quinta dos Ingleses, foi entregue na Assembleia da República, a 15 de maio, uma petição pública com 8288 assinaturas,
pedindo a proteção da Quinta dos Ingleses enquanto área verde e parque urbano. O número bastante elevado de manifestantes e subscritores da petição ilustra bem o apreço que a preservação da Quinta enquanto espaço verde merece. Levar a cabo a destruição da mesma, património ambiental de todos, colide com as mais elementares regras de respeito pela natureza e pela qualidade de vida dos cidadãos e é contrário às regras de ordenamento do território e da orla costeira, e aos princípios urbanísticos contemporâneos.
A Alves Ribeiro, como empresa privada, tem direito de querer que os seus investimentos deem lucro. As empresas existem para dar lucro e só temos de aplaudir as que o alcançam.
Mas seria bom também poder aplaudir a Alves Ribeiro pela sua postura cívica em prol do bem comum e, infelizmente, neste caso, não o podemos fazer, pela total ausência da procura de uma solução alternativa e pelo risco ambiental que este projeto representa.
A St. Julian’s School é uma organização escolar prestigiada, com quase 100 anos de existência, e que oferece aos seus alunos um ensino de qualidade acima da média. A St. Julians’s School tem também o direito de querer aumentar e melhorar as suas instalações
para poder captar mais educandos. Mas há que perguntar diretamente aos seus dirigentes se estão conscientes do péssimo exemplo de cidadania e civismo que estão a dar aos seus atuais alunos, sendo comentores na destruição deste ex-líbris ambiental que é a Quinta dos Ingleses, manchando assim, para sempre, a imagem da instituição.
A Câmara Municipal de Cascais (CMC), como órgão de Governo Local, devia garantir o interesse público e não lucros privados ou a pura especulação imobiliária. Mas é por demais sabido que, de há muitos anos a esta parte, a CMC se autotransformou numa espécie de holding empresarial, apostada no desenvolvimento de um urbanismo intensivo que tem descaracterizado o concelho e retirado a qualidade de vida aos munícipes. E em tal persiste, atento o comportamento autista e unilateral dos seus principais responsáveis políticos.
A destruição dos 52 hectares da Quinta dos Ingleses, construindo naquele local maciços de betão, não está, de todo, em linha com o programa eleitoral do atual Primeiro-Ministro.
Acresce que, em 27 de fevereiro, o Parlamento Europeu aprovou a Lei do Restauro da Natureza, que define o objetivo de recuperar, pelo menos, 20% das zonas terrestres e marítimas do território da União Europeia até 2030 e de todos os ecossistemas que necessitam de restauro até 2050.
Na qualidade de cidadãos intervenientes, defensores da preservação da Quinta como espaço verde natural e, fundamentalmente, preocupados com a herança que vamos deixar às próximas gerações, deixamos aos destinatários desta carta aberta o desafio de reconsiderarem o ecocídio que estão a cometer e que poderá potenciar o desaparecimento da Praia de Carcavelos, e o nosso contributo:
1 – A Quinta dos Ingleses deve permanecer um espaço verde natural, a ser obviamente intervencionado do ponto de vista paisagístico e florestal, dado o estado de abandono a que foi votada de há muitos anos a esta parte.
2 – A sua base verde pode (e deve) ser complementada pelas outras funções não conflituantes que já lá existem: equipamentos educativos (St. Julian’s School), cultural e recreativa/desportiva (campo de futebol do Grupo Sportivo de Carcavelos).
3 – Utilizando exemplos positivos de outros países e atenta a existência no local de duas instituições educativas prestigiadas (St. Julian’s School e Nova SBE ali mesmo ao lado), a Quinta dos Ingleses poderia ser transformada num campus educacional/formativo
na área da biologia e conservação da natureza, reabilitando-se os edifícios em ruínas como núcleo museológico que fizesse jus ao importante legado histórico da Quinta e/ou polo destinado ao ensino e à cultura.
4 – A criação de um significativo parque natural urbano (à semelhança, por exemplo, do Parque da Cidade do Porto), em área protegida de âmbito local, permitirá promover e perpetuar o nome Alves Ribeiro, associando este poderoso grupo económico à história de Carcavelos e à preservação da natureza e do bem-estar público.
5 – O futuro parque urbano poderia compensar as emissões de carbono de uma sociedade (a Alves Ribeiro, S.A.) que, enquanto construtora, é necessariamente responsável pela emissão de toneladas de CO2.
6 – O financiamento destas ideias pode ser apoiado por verbas do PRR, pelo que pelo menos uma parte do ressarcimento da Alves Ribeiro e da St. Julian’s School poderá advir de fundos europeus.
7 – A CMC é detentora de inúmeros terrenos no concelho de Cascais com viabilidade construtiva e só não consegue encontrar uma moeda de troca com a Alves Ribeiro se continuar a não fazer o mínimo esforço nesse sentido.
Em nome, fundamentalmente, das gerações vindouras, o que se pede aos destinatários desta carta aberta é que se sentem à volta de uma mesa as vezes que forem necessárias para que não se hipoteque de vez a qualidade de vida no litoral de Carcavelos, não minimizando os efeitos nefastos que a destruição da Quinta terá na configuração atual da orla costeira e, a prazo, no magnífico areal da Praia de Carcavelos.
Recorde-se que o mais recente relatório da Agência Europeia do Ambiente defende a limitação do desenvolvimento das cidades em áreas mais suscetíveis a cheias e inundações (como é o caso de Carcavelos) e a relocalização das construções em áreas
costeiras.
Se nenhum dos três primeiros destinatários desta manifestação escrita tomar a iniciativa, caberá então, naturalmente, ao Primeiro-Ministro chamar a si, através das pastas ministeriais aplicáveis, o encontro de uma solução, em linha com o programa
eleitoral que o elegeu.
Caso contrário, serão os portugueses e o país que muito perdem.
SOS QUINTA DOS INGLESES"
𝗘𝘀𝘁𝗮 𝗰𝗮𝗿𝘁𝗮 𝗮𝗯𝗲𝗿𝘁𝗮 𝗳𝗼𝗶 𝗽𝘂𝗯𝗹𝗶𝗰𝗮𝗱𝗮 𝗻𝗼 𝗷𝗼𝗿𝗻𝗮𝗹 𝗘𝘅𝗽𝗿𝗲𝘀𝘀𝗼 𝗱 𝗱𝗶𝗮 𝟮𝟱/𝟬𝟱/𝟮𝟬𝟮𝟰. 𝗖𝗮𝗱𝗲𝗿𝗻𝗼 𝗱𝗲 𝗘𝗰𝗼𝗻𝗼𝗺𝗶𝗮, 𝗽𝗮́𝗴.𝟮𝟯.